sábado, 29 de janeiro de 2011

HOMENAGEM AOS AUSENTES

            Antes de começar essa homenagem, eu gostaria de pedir a todos aqui presentes que tentassem imaginar o céu durante uma noite limpa, sem nuvens. O céu mais estrelado que vocês já viram. Observem a beleza de todos esses pequenos pontos iluminando a escuridão. Não é a toa que estrelas sejam uma imagem poética tão presente na literatura, não é mesmo? O irônico disso é que cientificamente nós sabemos que muitos desses pontos de luz inspiradores de tanta imaginação e de tantos sonhos não existem mais. Terminaram já seu ciclo de existência, e o que vemos é somente a luz que, transmitida de uma longuíssima distância, ainda percorre o espaço. Assim, quando olhamos um lindo céu estrelado, o que vemos é a luz de várias estrelas mortas.
            Bom, eu deveria fazer uma homenagem aos ausentes, mas não o farei. Eu sei que provavelmente todos nós que estamos aqui hoje tivemos alguém que tenha sido essencial em nossas vidas, alguém que nos apoiou, que nos deu carinho e afeto. Alguém que sempre dizia as palavras certas nos momentos em que precisávamos, ou cuja presença silenciosa já era suficiente. Ou alguém que tinha o peculiar talento da implicância, e que nos tirando do sério nos fazia ver que nem tão séria assim é a vida. Enfim, essas pessoas que já não estão em nossas vidas da maneira que gostaríamos que estivessem e cuja falta tanto sentimos não merecem uma “homenagem aos ausentes”. Porque, assim como nossas queridas estrelas, suas luzes estão aqui, bem presentes e visíveis.
            São aqueles sorrisos e olhares que ainda podemos ver, abraços e beijos que ainda conseguimos sentir, palavras que nunca poderemos nos esquecer. Façamos agora nossa homenagem a essas  pessoas sem dúvida bem presentes. Hoje é dia de festa, e nada mais justo do que homenagearmos pessoas tão queridas demonstrando a grande felicidade de termos tido a oportunidade de viver com elas tantos bons momentos. Celebremos hoje e sempre a luz dessas estrelas que vivem em nossas memórias e em nossos corações.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Não dito

Depois de alguns minutos meio dormindo, mas já acordado, sentiu junto ao seu corpo aquele outro corpo. Mas abriu os olhos e não a encontrou. Levantou-se de súbito. Respirou fundo, quase um suspiro. Vestiu uma calça, calçou os chinelos e foi ao banheiro. Jogou água no rosto e se olhou no espelho. Ela já foi? Secou-se com a toalha e foi à cozinha. Lá ela estava, vestida com sua camisa de malha cinza que nela ficava à altura das coxas. Sentada em um banco alto, escorava seus braços no balcão que separava a cozinha da sala, tendo à sua frente uma xícara fumegante de café fresco. Tinha prendido seu cabelo cor de mel nele mesmo, fazendo um coque desalinhado. Olhava sem ver algum ponto na parede oposta, como fazia quando pensava distraída.
Abraçou-lhe pondo a mão esquerda sobre a barriga e a direita em seu ombro esquerdo. Beijou-lhe seu pescoço logo atrás do lóbulo da orelha.
– Bom dia!
            – Fiz café, disse sorrindo.
            Soltou a mão do ombro dela, pegou a xícara sobre o balcão e tomou um gole. Deixando a xícara novamente sobre o balcão, deslizou seus dedos do ombro até sua mão, entrelaçando os dedos. E abraçando-a novamente. Fechou os olhos e suspirou. O ar que ele expirava batia em seu pescoço, mas era como se ela pudesse senti-lo por toda a sua pele. Ele foi soltando-a devagar. Pegou uma xícara no armário e encheu-a com café. Encostou-se na pia, que ficava oposta ao balcão. Ela já tinha se virado. Ele podia ver seus olhos meio azuis meio cinza olhando seu rosto. Ela levou sua xícara à boca, soprou delicadamente e deu um gole.
            – Já são 7 horas. Vou precisar passar em casa e trocar de roupa antes de ir pro trabalho.
            – Eu te levo.
            Ele engoliu rapidamente deu café, foi ao banheiro, tomou um banho rápido. Quando chegou ao quarto, ela estava com seu vestido preto e sandálias vermelhas. Ajeitava seus cabelos, penteando-os com os dedos. Ele vestiu sua camisa e sua calça. Ela fez questão de dar o nó em sua gravata e ele sentia a respiração dela bem próximo a sua boca. Ela o olhou nos olhos e encostou delicadamente seus lábios nos dele. Ele fechou os olhos.
            – Vou acabar me atrasando – ela disse alguns segundos, ou uma eternidade, depois.
            Ele pegou o paletó e suas chaves. Saíram do apartamento e desceram ao estacionamento. Uns quinze minutos depois, já chegavam à rua da casa dela. Desceram do carro. Ela subiu os degraus que levavam até a porta da casa e abriu-a com sua chave. Virou-se e ali ele estava.
            – Te vejo mais tarde, ele disse.
            – Sim, até mais tarde.
            Ele olhava a porta se fechar. Pensou que deveria ter dito algo. Mas não precisava.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Algo escrito em um tempo agora já bem distante...

Ando.
Um passo, outro passo
leves, todos, quase um toque dos pés
na movediça estrada.
Mas meu coração explode
e se espalha por todas as artérias
e se encolhe em cada inspirar
e a cada segundo eu inspiro esse vento
que como eu segue em frente
para trás
para os lados
O que importa?
só que vai...
Ir
sem parar
sem limites
e vou
e ando.
Sinto meu coração ocupar o espaço
mas ele se contrái.
Tudo pulsa, todo espaço.
Coisa demais pra pulsar.
Não cabe tudo, não pode caber.
Mas sim, você é o espaço, meu coração.
É tudo.
Tudo que o vento alcança.
O vento bate em meu rosto.
E continuo a andar
ando
e ando.

sábado, 10 de outubro de 2009

Eu também

– Eu também – sou obrigada a dizer.

Mas, não! Hoje, nesse exato momento, eu não te amo. Só que isso não significa que eu não te amei ontem, nem que eu não vou te amar amanhã. Te amo durante boa parte do tempo, até. Na verdade, hoje mesmo, há umas horinhas atrás, quando você foi pegar um copo d’água, lembra?

Foi na hora em que você comentava sobre sua jogada fantástica no futebol, você sorria tão lindo, e eu olhava admirada esse seu sorriso, e foi bom porque você até pensou que eu estava prestado alguma atenção em quem passou a bola pra quem ou quem fez falta, não é?

Bom, nesse momento eu te amava. Mas agora não.

Não, não foi nada que você tenha feito, não. Mas será que eu sou obrigada a te amar o tempo todo?

Por que?

Por que digo que te amo mesmo assim?

Pode ser que sim. Mas o que posso fazer? Se eu agora disser que não te amo, depois, quando eu voltar a te amar, você vai estar magoado comigo, não é.

Admita.

Não, não diga que eu não te amo mais, não é verdade. Eu só não te amo agora, nesse exato momento.

Eu não quero terminar com você.

Ah, não! Não faça essa carinha. Não fica assim. Não gosto de te ver triste. Ainda que, chorando, tão lindinho! Sabe, eu já to te amando de novo.

É serio!

Não to mentindo pra te agradar não. É verdade. Nesse exato momento, eu te amo!

Aderindo ao Blog

E no princípio eram os escritores da faculdade de Letras da FFP divulgando seus trabalhos em seus blogs.
Há muito eu já não me considerava escritora o bastante para isso. Depois dos poemas de depressão adolescente, só escrevia contos inacabados e frases aleatórias para serem usadas em textos que nunca foram escritos (será que eu poderia juntar tudo isso e publicar num livro pós-moderno?!).
Mas há pouco mais de dois meses eu consegui escrever (inteiro!) um pequeno conto. Não sei se é bom, só sei que é meu, e que, depois de tanto tempo sem nada concluído, deu orgulho.
Então, num dia de vagabundagem internética, resolvi aderir à moda dos blogs e postar minha obra-prima (e única!). E como propaganda ao "Eu também", vem abaixo parte da crítica feita por Luis Guilherme Lopes (olha que inversão de papéis, Gui!!!):

"O conto parece que se passa no pensamento da personagem. Ela responde: 'Eu também' e daí começa o clarissismo!, rsrs. Gostei mesmo do conto, muito sincero. 'Te amo durante boa parte do tempo, até.' Adorei!!"

Espero que tenha servido para abrir o apetite (vamos ver agora, Guilherme, sua influência como crítico literário).
E, é claro, espero que gostem.

Vou ver se agora eu tomo vergonho na cara e termino de escrever o que eu começo (e também se passo a começar a escrever mais vezes).

Auf Wiedersehen!