quinta-feira, 8 de julho de 2010

Não dito

Depois de alguns minutos meio dormindo, mas já acordado, sentiu junto ao seu corpo aquele outro corpo. Mas abriu os olhos e não a encontrou. Levantou-se de súbito. Respirou fundo, quase um suspiro. Vestiu uma calça, calçou os chinelos e foi ao banheiro. Jogou água no rosto e se olhou no espelho. Ela já foi? Secou-se com a toalha e foi à cozinha. Lá ela estava, vestida com sua camisa de malha cinza que nela ficava à altura das coxas. Sentada em um banco alto, escorava seus braços no balcão que separava a cozinha da sala, tendo à sua frente uma xícara fumegante de café fresco. Tinha prendido seu cabelo cor de mel nele mesmo, fazendo um coque desalinhado. Olhava sem ver algum ponto na parede oposta, como fazia quando pensava distraída.
Abraçou-lhe pondo a mão esquerda sobre a barriga e a direita em seu ombro esquerdo. Beijou-lhe seu pescoço logo atrás do lóbulo da orelha.
– Bom dia!
            – Fiz café, disse sorrindo.
            Soltou a mão do ombro dela, pegou a xícara sobre o balcão e tomou um gole. Deixando a xícara novamente sobre o balcão, deslizou seus dedos do ombro até sua mão, entrelaçando os dedos. E abraçando-a novamente. Fechou os olhos e suspirou. O ar que ele expirava batia em seu pescoço, mas era como se ela pudesse senti-lo por toda a sua pele. Ele foi soltando-a devagar. Pegou uma xícara no armário e encheu-a com café. Encostou-se na pia, que ficava oposta ao balcão. Ela já tinha se virado. Ele podia ver seus olhos meio azuis meio cinza olhando seu rosto. Ela levou sua xícara à boca, soprou delicadamente e deu um gole.
            – Já são 7 horas. Vou precisar passar em casa e trocar de roupa antes de ir pro trabalho.
            – Eu te levo.
            Ele engoliu rapidamente deu café, foi ao banheiro, tomou um banho rápido. Quando chegou ao quarto, ela estava com seu vestido preto e sandálias vermelhas. Ajeitava seus cabelos, penteando-os com os dedos. Ele vestiu sua camisa e sua calça. Ela fez questão de dar o nó em sua gravata e ele sentia a respiração dela bem próximo a sua boca. Ela o olhou nos olhos e encostou delicadamente seus lábios nos dele. Ele fechou os olhos.
            – Vou acabar me atrasando – ela disse alguns segundos, ou uma eternidade, depois.
            Ele pegou o paletó e suas chaves. Saíram do apartamento e desceram ao estacionamento. Uns quinze minutos depois, já chegavam à rua da casa dela. Desceram do carro. Ela subiu os degraus que levavam até a porta da casa e abriu-a com sua chave. Virou-se e ali ele estava.
            – Te vejo mais tarde, ele disse.
            – Sim, até mais tarde.
            Ele olhava a porta se fechar. Pensou que deveria ter dito algo. Mas não precisava.

2 comentários:

  1. wow, a Tamara demora a escrever mas quando escreve... (Y)

    adoro esses contos assim, que tem esse rítmo devagar e no final não há grandes mistérios a serem desvendados, só a vida mesmo, que já é suficiente.

    :)

    ResponderExcluir
  2. Que delícia de conto! Obrigada por nos fornecer tal leitura! :)

    ResponderExcluir